Descrição para cegos: Trabalhador executando o corte da cana. Foto: Reprodução/Twitter. |
Por Pedro Victor Beija
Por Pedro Victor Beija
De fato, a tão esperada modernidade
chegou, mas passa longe de ser uma boa-nova. Em alguns aspectos, acredito que
até regredimos. Ao falar de trabalho, esperava-se que nossas relações e
entendimentos evoluíssem, e que isso influísse positivamente, aumentando a
produtividade e criando novas tendências de mercado, novas possibilidades.
Modelos e modelos foram pensados, debatidos, mas em sua maioria, é como se
ainda estivéssemos nos anos 20.
Na escola, aprendi sobre modelos de
trabalho, modos de produção, e todo aquele papo de fordismo, taylorismo, que
sempre achei ridículo. O trabalhador sendo explorado ao máximo e sua dignidade
chegando ao mínimo, para encher o bolso do chefe.
Direitos? Que direitos? “Menos direitos
e mais emprego, ou todos os direitos e desemprego”. Podia ser uma frase de
algum dono de fábrica dos anos 20, mas, surpreendentemente, foi do recém-eleito
Presidente da República, o deputado Jair Bolsonaro. Tal frase é repetida por
sua equipe, quando questionados sobre possíveis reformas na lei trabalhista.
Não é tão difícil chegar a uma
conclusão, inevitável não pensar que as coisas históricas andem em círculos,
independentemente do tempo cronológico. Mas puxar pra esse lado seria alongar
demais um debate que é mais direto do que parece. Hoje, interessa muito mais
aos poderosos, uma mentalidade bronca, um falar “antigo”, uma visão “mais
antiga” sobre as coisas. Sentem saudade dos tempos da pouca ou quase nenhuma
fiscalização, das leis frágeis, do cidadão desesperado por um emprego – e
aceitando o que aparecer, em qualquer condição que seja.
E não é que não existam bons exemplos,
só não existe interesse em replicá-los. Um exemplo vem dos anos 90, na Suécia,
quando foi desenvolvido o Volvismo, também conhecido como sistema reflexivo de
produção. Nesse sistema, apesar do alto grau de informatização e automação nas
fábricas, tem forte presença de sindicatos, qualificação da mão-de-obra e
participação direta do trabalhador. Claro que isso tudo é reflexo direto da
sociedade sueca e seus inúmeros avanços, principalmente em questões sociais.
No Brasil, algumas questões antigas
ainda permanecem no nosso tratar diário com o trabalho, e talvez a mais
degradante de todas ainda é corriqueira: a escravidão. Enquanto o mundo procura
possibilidades, por aqui preferimos voltar ao passado, tentando perpetuar todo
tipo de absurdo que já foi normal. E esse “normal” me soa ainda mais medonho,
pois só tende a servir aos poderosos, acostumados a passar por cima de todos e
viver acima da lei.
É cruel nos dias de hoje, ser
necessário usar termos tão óbvios, explicar razões tão simples, de um sistema
onde só um lado decide insistir em voltar ao passado. Fazem do trabalhador um
mero espectador de um jogo de cartas marcadas, onde só ele perde.
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