domingo, 4 de novembro de 2018

Quem paga a banda, escolhe a música?


(Descrição para cegos: Juninho Pernambucano falando em uma de suas participações na programação da Globo. Foto: Reprodução/Grupo Globo)
Por Pedro Victor Beija

     Ao tratar de espaços de trabalho, dificilmente pensamos se um ambiente negativo pode dificultar a produção do trabalhador. Quando tal questão é levantada, pensamos rapidamente no trabalhador braçal, em fazendas, fábricas, oficinas; No entanto, essa reflexão não pode se resumir apenas a esse espaço amostral ou somente às condições análogas à escravidão. Com o Jornalismo não é diferente, em vários veículos, vem à tona relatos de funcionários constantemente com medo de reclamar das ordens de cima, e que, quando questionam, são reprimidos com veemência.
     Um exemplo recente é o relato do ex-jogador Juninho Pernambucano, em entrevista para o El País, em que reclamou ter sofrido censura na Rede Globo, onde foi comentarista de futebol. No relato, não cita apenas o episódio no qual diz ter sido censurado, também conta sobre discussões ríspidas com companheiros da emissora, que prejudicaram seu próprio trabalho, como a ameaça de morte que sofreu de torcedores do Flamengo, após criticar um jogador, o que fez com que Juninho pedisse para ficar de fora da transmissão.
       A censura relatada por Juninho se deu em um momento onde ele fazia fortes críticas a setoristas, denunciando que estes prejudicavam o ambiente de trabalho dos clubes de futebol, segundo ele, “pautando” o noticiário, com críticas a jogadores e comissão técnica, se aproveitando do fato de estar mais próximo daquele ambiente, cobrindo os treinamentos e jogos de perto.
      Não é surpresa os abusos nos meios de comunicação, o mais recente caso vem da Rede Record, quando vários jornalistas pediram demissão após ordens do alto escalão da empresa para que os telejornais e os outros veículos ligados à empresa favorecessem o candidato Jair Bolsonaro, com relatos de funcionários do portal R7, em matéria do The Intercept Brasil. Em um destes relatos, é detalhado todo o processo de agendamento definido pela “alta cúpula” da empresa, exigindo que as matérias sejam avaliadas antes da publicação. Matérias que chegam de agências de notícias passam por autorização de quem comanda a redação. Outros relatos falam das “encomendas”, matérias feitas exclusivamente para denegrir os candidatos adversários. Tais atitudes ordenadas pelos chefes da redação, fizeram com que os jornalistas parassem de assinar essas matérias, em uma tentativa mínima de distanciamento da situação.
      A cultura da “panela de pressão” parece funcionar bem para as empresas, especialmente agora, após as mudanças nas leis trabalhistas. E o jornalismo encontra-se encurralado diante dessa realidade, onde as ordens de cima pautam o noticiário. 

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