(Descrição para cegos: Juninho Pernambucano falando em uma de suas participações na programação da Globo. Foto: Reprodução/Grupo Globo) |
Por Pedro Victor Beija
Ao
tratar de espaços de trabalho, dificilmente pensamos se um ambiente negativo
pode dificultar a produção do trabalhador. Quando tal questão é levantada,
pensamos rapidamente no trabalhador braçal, em fazendas, fábricas, oficinas; No
entanto, essa reflexão não pode se resumir apenas a esse espaço amostral ou
somente às condições análogas à escravidão. Com o Jornalismo não é diferente,
em vários veículos, vem à tona relatos de funcionários constantemente com medo
de reclamar das ordens de cima, e que, quando questionam, são reprimidos com
veemência.
Um exemplo recente é o relato do
ex-jogador Juninho Pernambucano, em entrevista para o El País, em que reclamou
ter sofrido censura na Rede Globo, onde foi comentarista de futebol. No relato,
não cita apenas o episódio no qual diz ter sido censurado, também conta sobre
discussões ríspidas com companheiros da emissora, que prejudicaram seu próprio
trabalho, como a ameaça de morte que sofreu de torcedores do Flamengo, após
criticar um jogador, o que fez com que Juninho pedisse para ficar de fora da
transmissão.
A censura relatada por Juninho se
deu em um momento onde ele fazia fortes críticas a setoristas, denunciando que
estes prejudicavam o ambiente de trabalho dos clubes de futebol, segundo ele,
“pautando” o noticiário, com críticas a jogadores e comissão técnica, se
aproveitando do fato de estar mais próximo daquele ambiente, cobrindo os
treinamentos e jogos de perto.
Não é surpresa os abusos nos meios
de comunicação, o mais recente caso vem da Rede Record, quando vários
jornalistas pediram demissão após ordens do alto escalão da empresa para que os
telejornais e os outros veículos ligados à empresa favorecessem o candidato
Jair Bolsonaro, com relatos de funcionários do portal R7, em matéria do The
Intercept Brasil. Em um destes relatos, é detalhado todo o processo de
agendamento definido pela “alta cúpula” da empresa, exigindo que as matérias
sejam avaliadas antes da publicação. Matérias que chegam de agências de
notícias passam por autorização de quem comanda a redação. Outros relatos falam
das “encomendas”, matérias feitas exclusivamente para denegrir os candidatos
adversários. Tais atitudes ordenadas pelos chefes da redação, fizeram com que
os jornalistas parassem de assinar essas matérias, em uma tentativa mínima de
distanciamento da situação.
A cultura da “panela de pressão”
parece funcionar bem para as empresas, especialmente agora, após as mudanças
nas leis trabalhistas. E o jornalismo encontra-se encurralado diante dessa
realidade, onde as ordens de cima pautam o noticiário.
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